sábado, 22 de dezembro de 2007

Achei Richard Hell simplesmente incrível. (...) Era um cara desmantelado, arrasado, parecendo que tinha recém-rastejado para fora de um bueiro, parecendo que estava coberto de lodo, parecendo que não dormia há anos, parecendo que não se lavava há anos e parecendo que não dava a mínima pra você!! Era um cara maravilhoso, entediado, acabado, marcado, sujo, com uma camisa rasgada. E esse visual, a imagem desse cara, aquele cabelo todo espetado, tudo nele. (Malcom Maclaren - Mate-me por favor)






Ao ser inspirado por essa imagem, eu iria imitá-la e transformá-la em algo mais inglês. (...) E, de fato, lembro de ter dito aos Sex Pistols: "Escrevam uma canção como Blank Generation. Mas escrevam sua própria versão arrasadora". E a versão deles foi Pretty Vacant. (Malcom Maclaren - Mate-me por favor)





Mas fiquei completamente puto quando ouvi Pretty Vacant, dos Sex Pistols, pela primeira vez. Malcolm tinha roubado toda a atitude de Blank Generation. Mas as idéias não têm dono. Também roubei umas coisas. (Richard Hell - Mate-me por favor)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Continuando...Patty Smith

Aquela cena do início da década de 1970, que ainda não se sabia punk, se desenrolava no leste de Manhattan, entre os clubs CBGB, Mercer Arts Center e Max's Kansas City .

Mas não era qualquer um que conseguia entrar nesse reduto. Patti Smith era uma que tentava, tentava e tentava entrar no Max.

"Quando começaram a aparecer no Max's Patti Smith e Robert Mapplethorpe não podiam entrar. Eles eram um tanto deselegantes visualmente - Robert usava chapelões de camurça mole, e grandes camisas universitárias e tinha um visual bem ruim. Patti tinha um visual um pouquinho mais legal, usava roupas rasgadas, feias e sujas.

Acredito que Mickey Ruskin achou que eles não tinham o visual certo. E, justiça seja feita a eles, porque é uma coisa que provavelmente não teria coragem de fazer. Patti e Robert sentavam no cordão da calçada em frente ao Max's
e falavam com todo mundo que entrava e saía. Isto parecia fabuloso pra mim. Eu não teria ousado fazer isto se nao pudesse entrar. Simplesmente teria desaparecido. Eu admirava o peito de Patti de sentar ali e dizer: "É aí que quero ir, e se não me deixam entrar, vou ficar sentada do lado de fora." Era uma atitude punk antes de haver uma atitude punk. (Lee Childers)





Patti era uma garota que me acordava às nove da manhã dizendo: "Penny?" Eu dizia: "O que é, Patti?" "É aniversário de Bobby.""Que Bobby?""Bob Dylan." Patti viveu a vida toda fingindo ser John Lennon, ou Paul McCartney, ou Brian Jones, ou algum outro rock star. (...) Outras pessoas têm camaradas imaginários, mas Patti tinha camaradas imaginários que eram Keith Richards e gente desse tipo.

Patti queria conhecer Keith Richards, fumar como Jeanne Moreau, andar com Bob Dylan e escrever como Arthur Rimbaud. Ela tinha esse incrível panteão de ícones no quais estava se moldando. Na real ela tinha uma visão romântica de si. Patti tinha ido pra faculdade e ia ser uma professora, mas aí saltou fora do esquema de vida da classe trabalhadora de Nova Jersey. (Penny Arcade)





Eles eram punks antes do punk

Era o fim da década de 1960 e o início da década de 1970 e a palavra punk ainda não constava no dicionário como “pessoa jovem que gosta de musica punk e se veste de uma forma chamativa e não convencional (...)” ;“(...) uma música tocada de forma rápida, alta e agressiva e freqüentemente é um protesto contra atitudes e comportamentos convencionais.”[1]; “(...) movimento contestador reunindo jovens que exibem vários signos exteriores (cortes de cabelos, roupas) de provocação e escarninho com relação à ordem social vigente”; “(...)corrente musical surgida na Inglaterra na Grã-Bretanha”[2]; “(...)membro de movimento não conformista surgido na Inglaterra ao final dos anos 1970 que adota diversos sinais exteriores de provocação por completo desprezo aos valores estabelecidos pela sociedade.”[3]

James Chance, que está aí embaixo com The Contortions lembra que Originalmente, punk significava um cara na cadeia que é estuprado. E ainda significa isso para o pessoal na cadeia.(Punk Attittude - documentário de Don Letts)

Naquela época o Rock Progressivo estava no auge:

Por volta de 1971 foi inventado o mini-moog: um sintetizador portátil, no tamanho de uma máquina de escrever elétrica, tomando o lugar dos teclados tradicionais em muitos grupos de rock. Esta foi a tecnologia básica de um novo gênero de som circense e alienante chamado space rock (rock espacial). Tão em voga quanto o rock progressivo. As ambições e pretensões dos músicos desses dois gêneros de rock eram tamanhas que a coisa era considerada (por eles mesmos)...neoclássica. E vendia tanto que esses supergrupos já eram, basicamente, corporações multinacionais. [4]

E enquanto o rock progressivo se consagrava em todo o mundo, Nova York tinha, às margens de sua urbanidade, uma vida noturna pouco virtuosa e nada progressiva. A recusa ao rock progressivo não era improdutiva: havia a idéia de uma regeneração que só era possível destruindo, mediante o escárnio e a ação contrária, o totem do rock progressivo. Assim se buscava impor a noção de um grau zero na música.[5]

Dick Manitoba - The Dictators: E na Nova York antes de 75, a cena punk rock estava começando a borbulhar. Mas ninguém sabia o que seria a cena punk rock. (Punk Attittude - documentário de Don Letts)



[1] Collins Cobuild

[2] Houaiss

[3] Aurelio

[4] BIVAR, Antonio O que é punk São Paulo: Ed. Brasiliense, 2000 (p. 35/6)

[5] PUJOL, Sergio Las ideas del rock Rosario: Homo Sapiens Ediciones, 2007

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Nação Zumbi ataca a fome em novo CD

Jamari França - O Globo Online (01/11/2007)

RIO - A banda mais influente dos anos 90, a pernambucana Nação Zumbi, está lançando seu sétimo disco, ''Fome de tudo'', o primeiro pela gravadora Deckdisc. Produzido por Mario Caldato (Beastie Boys, Marcelo D2), o álbum tem a fome como tema central, não apenas a da privação do alimento, mas a fome de ter uma vida digna e a fome de conquistar e de consumir passando por cima de tudo e de todos.

Eles acham que a fome nunca vai acabar como dizem na faixa-título "a fome tem uma saúde de ferro/ Forte como quem come". Entre seus alvos está a indústria de celebridades em "Olimpo", na qual observam que "todos os dias nascem deuses/ alguns melhores e alguns piores do que você.

A Nação tem Jorge du Peixe (voz, sampler e percussão), Lucio Maia (guitarra e programação), Dengue (baixo), Gilmar Bola 8 (percussão), Pupillo (bateria e programações) e Toca Ogan (percussão e voz). O disco tem participação da cantora Céu em ''Inferno'' (eles juram que não foi de propósito) e de Junio Barreto em "Carnaval".

Veja os vídeos e ouça as músicas.

http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/10/31/326977265.asp

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O que eu entendi quando fui a Recife e Olinda

Só quando fui a Recife e Olinda, pude entender algumas músicas.


1) Rios, pontes e overdrives

Essa é auto-explicável

2) Num dia de Sol, Recife acordou
Com a mesma fedentina do dia anterior.

(A Cidade – Chico Science & Nação Zumbi)

Com todo respeito, mas andar por Recife me fez entender o que Chico Science dizia

3) As nove em ponto recebo o papel do banco
Dizendo que eu não tenho nada
Um zero vírgula dos zeros

Zero vírgula, zero, zero
Zero vírgula, zero, zero

(Saldo de aratu – Mundo Livre S/A)

Bem, essa eu entendia mesmo antes de ir a Recife

4) Eu cheguei nos quatro cantos
Olhei a rua treze de maio
Segui são bento, segui amparo
Fui parar no bonsucesso
Me lembrei de bob marley

(Guia de Olinda – Eddie)

Essa também é auto-explicável


5) O samba chegou
O samba chegou na ladeira
E subiu à pé
Fez das pernas bambas malandragem

(O samba chegou – Bonsucesso Samba Clube)

Rogerman na Escola de Samba Preto Velho, no Alto da Sé, Olinda, promovendo a Festa Criolinda

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O Biu

Depois de falar do Galeguinho do Coque e da Perna Cabeluda, não podia deixar de falar do Biu do Olho Verde. Biu andava por Olinda na década de 1970, fazendo o terror. Era um adolescente criado em Bultrins, periferia da Grande Recife. Sua marca registrada: usava um alicate para arrancar o bico dos seios de suas vítimas.

Assim, como a Perna Cabeluda, também virou filme. Mais informações na página http://fbcu.com.br/2004/inf_videos10.html

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Agora, a Perna Cabeluda

Se eu errei o penteado do Galeguinho, eu já tinha ouvido falar da abundância de cabelos que dá o nome à Perna da qual o valente Galeguinho não tinha medo. Também chamada de Cabiluda, como no documentário (link abaixo), que investiga a existência dessa perna. Com participações do próprio Chico Science, e uma explicação convincente de Fred 04.


a perna cabiluda

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Galeguinho do Coque

Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate[1]



Pois é, e eu que achava que Galeguinho do Coque era assim chamado por usar coque, aquele penteado típico das gueixas. Bem, parecia meio estranho, mas até então eu acreditava que este fosse o único significado da palavra coque. Acabei de descobrir que coque também é um tipo de combustível derivado do carvão betuminoso. Ignorante, sou mesmo. Mas, o Coque que compõe o nome de Galeguinho não é derivado do carvão nem de cabelo, é um lugar.

Procurei na internet e achei o texto “O galeguinho que fez a fama do Coque”[2], escrito por Maria Carolina Santos

“Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha. Não tinha medo da Perna Cabeluda...”, cantava Chico Science, em Da Lama ao Caos, sobre o bandido que deu fama ao Coque em meados da década de 1970. A ocupação e a violência na área surgiram bem antes, na passagem do século XIX para o século XX, personificada na figura do capanga. Na época, para garantir a segurança da exportação agrária, os donos de engenho contratavam homens armados para realizar o transporte da carga do Interior até o Porto do Recife. A quantidade de bares e prostíbulos presentes no entorno do Rio Capibaribe logo passaram a seduzir esses homens, que, com a derrocada do setor açucareiro, foram se fixando na área que vai do bairro de São José até o Coque.

A localidade ganhou fama como ponto de desordem e os moradores ficaram conhecidos como “cocudos”, ou seja, gente de cabeça dura e pavio curto. No final da década 1960, o Coque entrou na mídia como um bairro violento, carregando a imagem negativa de que os moradores protegiam os criminosos. O principal responsável por esta má reputação foi o jovem José Everaldo Belo da Silva, nascido na Zona da Mata Sul, que começou a praticar furtos aos 16 anos na região comercial e portuária do Recife.

Não demorou para que o adolescente, considerado bonito e esperto, alcançasse fama e fosse procurado pela polícia de quatro estados do Nordeste. Durante quatro anos ele ficou escondido no Coque, ganhando o apelido que o transformou em personagem lendário da história policial pernambucana. Ainda hoje os moradores mais antigos lembram o dia em que o Galeguinho do Coque assaltou um caminhão de leite em pó e distribuiu na comunidade.

Em 1971, ele foi preso e, na cadeia, se transformou em um homem religioso. Era o provável fim de uma vida de crimes, mas não o fim da violência no Coque. Com a prisão do Galeguinho, o grupo que ele liderava passou a lutar pelo controle da área, dividindo o local em várias regiões de influência, o que permanece até hoje. Ao deixar a cadeia, José Everaldo abriu um pequeno negócio no Alto do Jordão e se casou. Anos depois foi encontrado morto no município de Moreno, com uma bíblia ao lado. Ao invés das palavras sagradas, no entanto, o livro era oco e dentro estava escondido um revólver calibre 38.



[1] “Banditismo por uma questão de classe”

[2] http://media.twango.com/m1/original/0062/6df0b3045fb84486bca8bd6e03ed3b8d.pdf

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Circulando


Ei, tem alguém aí? Depois de todo esse silêncio, desse sumiço? Depois de uma maratona, hoje voltei aqui pro meu cantinho na lama e percebi que, por um dia apenas, fiquei quase um mês out. Mas eu tenho uma explicação, eu peço perdão! Vejam o que me aconteceu...

Foi assim, eu estava em Niterói, fui visitar uma avó, não minha, mas todos a chamavam de vó. E tinha uma mãe também, não minha, mas todos a chamavam de mãe, e ela fritava hamburguer sem parar. Todos de frango. Mas ela não parava. Saí de lá e peguei um ônibus. Logo achei estranho, ouvi dois caras conversando, um papo muito estranho. Um deles com uma camisa escrita “Nietzsche da mente”. Vai entender! Mas, de repente, eles falaram no meu nome. Não, não era coincidência! Eles falavam sobre mim. Tudo bem que exageraram um pouco dizendo que eu tocava maracatu. Tentei entrar na conversa, mas não consegui. Tentei saber os nomes deles, mas não consegui. Eles só atendiam por “jovem 1” e “jovem 2”. E o “jovem 2”, o “Nietzsche da mente”, misteriosamente sumiu.

Resolvi deixar isso de lado e fui me sentar em um dos bancos dianteiros. Encontrei uma adolescente emo, que atendia por “ema”, espirrando sem parar. Ela conversava com uma “perua”, que dizia ter entrado naquele ônibus por motivos diversos. Até agora não entendi se ela era um travesti ou um protótipo de Maria Bethânia. Mas teve gente a chamando de “Bento Carneiro”. Sabe, o Bento Carneiro? O vampiro brasileiro.

Mas a coisa toda complicou quando um “vendedor de canetas” entrou ao mesmo tempo que um “vendedor de balas” no ônibus. Ah, gente, foi muita confusão. Agravada pela entrada de um “cego” e sua “acompanhante”. Um cara que estava o tempo todo falando no celular, um “mauricinho”, resolveu controlar a confusão e coordenar uma votação, proposta pela “perua”. Os passageiros tinham que escolher quem permaneceria no ônibus. Isso só agravou a confusão, todo mundo acabou brigando. Se batendo mesmo.A coisa toda virou um programa de auditório, um circo, um hospício. Aí o “motorista” resolveu intervir. Mas quem controlou mesmo a confusão foi um “assaltante”. Pois é, o ônibus foi assaltado! E no meio do assalto, surgiu uma banda tocando. Eu acho que eu conheço aquela banda, mas como todos ali, eles também não tinham nome...era só uma banda animada no meio de um assalto.

Quando eu finalmente consegui descer desse ônibus, que era “circular”, percebi que passei um mês lá dentro!! Um mês!!! Fiquei com inveja de uma passageira, ela tem 35,3 trabalhos e nunca dorme. Preciso disso em “my life”. Mas, por incrível que pareça, comecer a sentir saudades daquele ônibus. Mas alerto a todos, cuidado quando pegarem um “circular” por aí.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Eles usam óculos!!!

Nos anos oitenta, Herbert Vianna subia no palco se defendendo do artefato que vinha sempre acoplado ao seu rosto: “eu não nasci de óculos, eu não era assim”. Afinal, óculos sempre foi coisa de “nerd” e não de astros da música pop. No último sábado, os óculos invadiram o palco do Circo Voador. E ninguém se importou com isso.

Primeiro foi o show do Kassin + 2, aquele projeto de Kassin + Domenico + Moreno, agora liderado por Kassin. Sim, ele parece nerd, parece que ta envergonhando por estar ali no palco, com seu baixo, cantando pra tanta gente. Mas e daí? Kassin + 2 é muito bom!! E tem mais, por trás do óculos, Kassin tem um currículo invejável. Ele foi (é?) do Acabou La Tequila. E como produtor musical produziu discos do Arto Lindsay, Caetano e Jorge Mautner, Los Hermanos, Totonha e os Cabra, já fez trilha pra espetáculo da Débora Colker e por aí vai. E ele toca “game boy”...pois é!!

Depois foi a vez do Mombojó. Felipe S , de óculos, é bem desenvolto. Ele pula, ele dança, ele anima o público. E canta, claro!! Mombojó tá na boca do povo do circo.Foi bonito, foi bonito. Ele animando todos a entoar “saborosa sensação”. Do meu lado, um trio discutia se ele ainda tinha sotaque ou se já tinha perdido...ficavam tentando achar o sotaque recifense entre seus versos. E se não acharam foi porque não quiseram. Porque o sotaque não está só na voz de Felipe, está na sua forma de fazer música e no discurso da banda em dizer que “são a prova de que o Manguebeat não morreu”. Afirmação que prova que Manguebeat não é um ritmo, mas uma forma de fazer e pensar música (mas não só isso). Sotaque presente, e como, na atitude de disponibilizar seus discos na internet para serem baixados, licenciados pelo creative commons. Alguém duvida?
P.S.: A única coisa estranha foi que não teve bis. E a platéia se conformou com isso...

sábado, 2 de junho de 2007

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Contrariando o título do post anterior...

Peço paciência, mas explicarei o post anterior.Sempre há um novato em qualquer assunto, então...


O Cenário: Um festival de música independente.
Todos os anos, no mês de abril, desde 1992, acontece em Recife-Olinda, um festival de música independente, o Abril Pro Rock. Atualmente é o mais importante festival de música independente do Brasil e, em 2007, na sua 15ª edição, teve mini-versões no Rio e em São Paulo.


Os Personagens:
Paulo André, um importante produtor musical que, dentre outras coisas, organiza o Abril Pro Rock.
The Playboys, uma banda recifense que nunca conseguiu tocar no Abril Pro Rock.


A Cena: Olinda, Centro de Convivências,Edição de 2005 do Abril Pro Rock. Num quiosque que o festival aluga para comerciantes, está um amplificador, instrumentos musicais, alguns de brinquedo. Quando os portões abrem, "The Playboys" começam a tocar "Paulo André não me ouve", anunciando o Palco 3 do Abril Pro Rock. Foi, no mínimo, uma piada engraçada!


O desfecho: A brincadeira dos The Playboys renderam algumas reportagens nos jornais e uma notoriedade, pelo menos em Recife. Em 2007, eles tocaram no Abril Pro Rock, não mais no improvisado Palco 3.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Um vídeo vale mais que um monte de palavras!!




E ESSE ANO ELES TOCARAM NO ABRIL PRO ROCK!!!

quinta-feira, 24 de maio de 2007

o cheiro de queimado

Acordei às 9:30 (tarde, muito tarde pra vida que era minha até bem pouco tempo atrás. Cedo, muito cedo pra vida que tem sido minha desde há um tempo atrás.). Me dirigi determinada e impulsivamente para meu computador, aquele que bravamente tem me acompanhado há quase quatro anos, meu fiel companheiro, meu Sancho Pança. Minha determinação era pra deixar essa vida de ócio culpado para trás e colocar em dia todo o trabalho que se acumula em montanhas de papel aos pés da escrivaninha, a que abriga meu doce e bravo computador. Apertei sem pestanejar o botão e, enquanto ele, o computador, se ocupava de despertar totalmente, fui escovar os dentes e lavar o rosto (afinal, isso é o mínimo, né). Voltei, chequei os emails (inclusive o da seleção de atores, um trabalho muito divertido, vocês nem imaginam). Chequei o orkut, estou atrás do contato do MC Magalhaes, mas parece que ninguém o viu vendendo bala por aí. Se alguém o encontrar, por favor, me avise. E comecei a grande tarefa do dia: terminar, de uma vez por todas, a resenha de um livro de antropologia. Em inglês, blargh...Tudo estava indo bem e parecia que, antes do meio dia, eu conseguiria cumprir essa tarefa e partir para outras (vocês bem sabem que eu adoro um tarefário). Eis que, sem aviso prévio, a tela ficou preta, a luzinha verde da torre se apagou, e eu senti um cheiro de queimado. Mantive a calma, a última vez que senti um cheiro de queimado foi um incêndio no prédio da frente (ninguém se machucou, mas o porteiro do meu prédio anda neurótico). Imagina pra que me preocupar se pode ser o prédio vizinho que está pegando fogo e não o meu computador? Vamos lá, Sancho andava revoltado. Eu ligava, ele desligava, eu ligava, ele desligava...Ele me venceu e veio o desenrolar previsto pra esse tipo de situação (pelo menos no meu profile, isso é o que se espera): o desespero, o choro, o quase suicídio...minha vida, meu mundo está naquela bodega que não liga mais, que não me atende!! Pra quer viver assim??!!! Lágrimas quase secas, liguei pro Urso, a única pessoa que entende e conserta as desfeitas que Sancho me faz. Ele percebeu meu desespero pelas inúmeras ligações seguidas gravadas no seu celular e disse: logo logo passo aí e busco o teimoso. Sancho, agora, está nas mãos do Urso. Ai, ai, só posso dizer que estou com um vazio no peito e meu coração dói toda hora que olho e vejo aquele buraco na escrivaninha. Espero que Sancho volte logo. E forçosamente, continuo minha vida de ócio culpado. Ah, o cheiro de queimado, dessa vez, não vinha de nenhum prédio vizinho. Vã esperança, a minha.
P.S.: Pensando aqui com meus botões. O certo seria ócio com culpa e não ócio culpado, não é??

quarta-feira, 23 de maio de 2007

oi, coisinha!!

Pois é, combinando preguiça e necessidade, hoje vou fazer um anúncio aqui!


segunda-feira, 21 de maio de 2007

Clarisce


Apontando para a foto aí ao lado, eu disse para a Mami: “Essa foto é de Clarice...”. Mas, antes que eu terminasse, Sílvia me interrompeu, exclamando: “Sim, Clarisse é amiga de Rejane, dirige o filme com ela!!”. Mami, assustada, franziu a testa e pensou que era uma dificuldade de compreensão do idioma, pois ela é espanhola, e nós estávamos falando em português. Mas ao ver meu rosto que oscilava da foto para Silvia e da Silvia para a foto, Mami percebeu que o erro de compreensão não era dela. Pois é, Clarisse, a Vianna, foi confundida com a estátua de Clarice, a Lispector.

A foto ao lado, não se iludam, não se confundam, não é da Clarisse, mas da Clarice, que mora na praça em frente a um hotelzinho fuleiro que fiquei hospedada, em Recife. A praça eu não lembro o nome, claro. O Hotel, nunca vou esquecer, se chama América. Como Clarisse, a Vianna, percebeu, essa Clarice, a Lispector, está em dimensão 1 e meio. Pois é, só vendo o tamanho da cabeça e dos pés da criatura. E, fosse dia ou fosse noite, ela estava lá, teclando, ou melhor, datilografando. Coitada, eternamente aprisionada à função...

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Eu vim e vou com a Nação Zumbi

Não, essa foto não é um repentino saudosismo da moda-break da década de 80. Ou, pensando melhor, talvez seja. Já que o dono do pé abrigado por esse tênis saído do túnel do tempo (não sei se do passado ou do futuro, isso fica ao seu bel-prazer) fazia parte da legião hip-hop, grupo de street dance de Recife. É Jorge Du Peixe. E o pé foi fotografado durante a tão esperada entrevista, que aconteceu dia 24 de abril, em uma padaria no bairro de Perdizes, São Paulo.

_____________




Rio, de Janeiro,12 de maio, e o pé citado acima pisa o palco do Circo Voador pela n-ésima vez. Pelo Circo desfilam tênis Adidas, chinelos Havaianas, All Stars, algumas sandalinhas, e por aí vai...uma variedade imensa de sapatos que, na sua maioria, indicam o penteado de seu “dono”, ou vice-versa. Independente do que se tem no pé ou na cabeça, todos pularam ouvindo “meu maracatu pesa uma tonelada”. De onde eu estava, parecia uma grande massa de cabelos se movimentado para baixo e para cima, de um lado pro outro. Atrás de mim, uma menina sandália-cabelo-com-franja, disputava meus ouvidos com Jorge Du Peixe. Ela cantava, ou melhor, berrava todas as músicas. No ouvido direito só dava pra registrar a voz dela. O ouvido esquerdo se esforçava para ouvir a Nação. Tenho certeza que todos ali pensaram: Eu vim com a Nação Zumbi...e eu vou com a Nação Zumbi. Show da Nação não dá para explicar, tem que ir pra ver, dançar, berrar, pular, sentir.



Ah, sim, e o cheiro...não dá pra não citar o famoso odor do Circo. Quem já foi sabe qual é, quem não conhece, pode imaginar.




_______________





Antes da Nação, tive a alegria de assistir o show do China. Tirando o Caio Blat que passou o show inteiro no palco, tirando onda não sei de que, o show foi muito, muito bom. Cheguei em casa e entrei na comunidade “Quero dançar como o China”.




_______________




Sim, esse blog anda bem abandonado. Peço desculpas aos meus leitores anônimos (eu acredito que vocês existem, assim como acredito nos gnomos). O primeiro motivo se justifica pelo tênis acima, as últimas filmagens do filme me afastaram de todo o resto da vida. O segundo é que ando abrigando um ser estranho dentro de mim, que não me deixa ficar de pé por mais de 2 horas. Alguns dizem que isso se chama preguiça. Eu não sei, acho que estou possuída, e tenho a impressão de que é verde.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

fusao?

Pelo seu nome, Manguebeat é geralmente traduzido literalmente como Batida Mangue e costuma ser entendido como um estilo musical marcado pela fusão de ritmos regionais (como o maracatu) com ritmos pop (como o rock).
Da fusão de ritmos regionais brasileiros (como o maracatu, o samba, o coco, e algumas outras vertentes), aos ritmos pop globais (como o funk, o hip hop, o punk e o jazz), nasce uma síntese muito interessante e inteligente que reflete, a partir da miscigenação de ritmos distintos, a interação entre as diversas culturas do globo[1]

Apesar de aparentemente explicitar com clareza o que representa o Mangue, a definição acima está equivocada porque pensa em termos de síntese e fusão. Dentro do Mangue é realmente possível apreender a interação de diversas manifestações culturais do globo, pois a diversidade é um elemento chave da “cena” Mangue. No entanto, isso não significa síntese, muito menos fusão, como explicita a fala de Renato L:

Mangue não é fusão de coisas eletrônicas com ritmos locais, por exemplo. O mundo livre s.a. que é a banda parceira do Nação Zumbi nessa história, quase não trabalha com sons regionais; a parada deles é a música pop com samba. Hoje em dia, acho que não é mais mangue o chapéu de palha e os óculos escuros, a batida do maracatu com uma guitarra pesada à Lúcio Maia – aliás, isto nunca foi. O som da Nação sempre foi muito rico, não se resumindo a esse clichê. Mangue, hoje em dia, continua sendo a diversidade, o senso de cooperação entre as bandas que vem se espalhando por outras áreas.[2]

Se a metáfora da fusão não dá conta da complexidade do Mangue, a metáfora da fluidez pode dizer mais sobre essa Cena, que pode ser pensada na forma do “neotribalismo” sugerido por Michel Mafessoli. O “neotribalismo” é a expressão de um novo vínculo social (ethos) surgindo a partir da emoção compartilhada ou do sentimento coletivo.Ao contrário da estabilidade induzida pelo tribalismo clássico, o “neotribalismo”, se configura pela fluidez, as reuniões pontuais e a dispersão. Segundo Mafessoli, (...) a ambientação do tempo e do lugar que irá determinar a atividade, a criação: quer seja a criação das obras de cultura, ou a criação microscópica da vida do cotidiano.[3]




[1] MOFFA, Luiz Guilherme op. cit.
[2] L, Renato (entrevista) “Mangue não é fusão” In: Manguenius (http://www.terra.com.br/manguenius/artigos/ctudo-entrevista-renatol.htm)
[3] MAFESSOLI, Michel O tempo das tribos Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002 (p.I)







quarta-feira, 18 de abril de 2007

Aumenta o zoom que é punk

Vamos fazer um exercício de imaginação. Imagine se o programa Google Earth captasse não fotografias de satélite e sim sons e movimentos das mais diferentes localidades do planeta. Se isso fosse possível, eu sugeriria que você digitasse “Alto José do Pinho” no mecanismo de busca desse programa. Você veria, então, o zoom se aproximando do local escolhido: América do Sul, Brasil, Pernambuco, Recife, Casa Amarela, Alto José do Pinho. A imagem panorâmica mostraria uma arquitetura precária, denunciando que a localidade que lhe indiquei é um bairro pobre, uma favela. O zoom continuaria ativo e se aproximaria mais, mostrando uma intensa movimentação. E aí desconfio que, calcado nas recorrentes notícias que proliferam nos jornais brasileiros, você desconfiaria estar presenciando uma movimentação de tráfico de drogas. Eu lhe diria então para ligar o som do computador. Entre os sons cotidianos de crianças brincando nas ruas e de pessoas conversando, você ouviria música, muita música, principalmente punk. E pode ter certeza, essa movimentação não inclui tráfico.


No entanto, o Alto José do Pinho já foi conhecido pela intensidade da violência e do tráfico. Mas isso começou a mudar quando, no final da década de 1980, um grupo de meninos do “Zé do Pinho” começou a “curtir” música punk. Entre tantos ritmos que povoavam a vizinhança, como o caboclinho, o maracatu, o coco e a ciranda, os meninos do “Zé do Pinho” se identificaram com o punk e passaram a se definir como tais. Como disse Silvio Essinger:


Em qualquer lugar do mundo, por mais carente que seja a comunidade, haverá sempre uma guitarra vagabunda plugada num amplificador podre e uma bateria de lata para que garotos descubram a inigualável experiência de fazer os seus próprios sons. E, uma vez que montem suas primeiras bandas, eles decerto quererão escrever letras que falem do seu cotidiano e de suas inquietações, seja de forma brincalhona ou sisuda, coerente ou delirante. Pois bem, isso é punk rock[1].


Se identificar com a música punk não significava negar uma identidade local em prol de uma identidade estrangeira. Ao contrário, significava se apropriar localmente de um estilo de vida globalizado. E foi através do punk que o Alto José do Pinho deixou de ser reconhecido pela violência e passou a ser conhecido como “Celeiro de bandas”, aumentando a auto-estima não só dos punks do Alto, mas de todos seus moradores. Se você já foi lá, você sabe como é. Se algum dia você for lá, você verá!!

[1] ESSINGER, Silvio Punk. Anarquia planetária e a cena brasileira São Paulo: Editora 34, 1999 (p.15)

sábado, 14 de abril de 2007

Da tropicália ao manguebeat (curso)

Esse blog também se presta a fazer anúncios, mas só aqueles que valem à pena. E esse é imperdível!! Curso "da tropicalia ao manguebeat", ministrado pela Santuza, que além de ser professora super conceituada no campo de estudos da música, é gente fina toda a vida. As informações estão aí embaixo


Da tropicália ao manguebeat

O curso, ministrado pela professora Santuza Cambraia Naves*, vai explorar as convergências possíveis e as diferenças entre a canção tropicalista (que inaugura uma perspectiva que reúne tanto a diferença quanto a universalidade, promovendo uma ruptura com o projeto nacional-popular) e as sonoridades que se desenvolveram mais recentemente no Brasil, como o funk, o hip-hop, o manguebeat e outras modalidades de música eletrônica.


Aonde: Pólo de Pensamento Contemporâneo: Rua Conde Afonso Celso, 103 - Jardim Botânico - CEP 22461-060 Tel. (21) 2286-3299 e 2286-3682

Valor: R$360,0050% na inscrição e o restante 30 dias após o início do curso
Data: 24 de abril a 5 de junho


* Santuza Cambraia Naves tem formação em Antropologia Social e Sociologia. Professora da PUC-Rio e coordenadora do Núcleo de Estudos Musicais da UCAM. Livros publicados: O violão azul: modernismo e música popular, Da bossa nova à tropicália, Do samba-canção à tropicália, e A MPB em discussão – entrevistas.


quarta-feira, 11 de abril de 2007

Arriando minha sunga!!!

Esse saiu no blog do Roger ( http://rogerderenor.uol.com.br/) e no overmundo (www.overmundo.com.br)
Arriando minha sunga!!!
Roger de Renor · Recife (PE) · 26/3/2007


Ao reassumir este ano, a Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco, o Mestre Ariano Suassuna, foi enfático ao declarar a política que adotará em sua gestão – será Armorial.
É isso, o Movimento Armorial agora é plano de governo.

Dito isto, nós que vivenciamos o Manguebeat dos anos noventa, não deixamos de lembrar as declarações radicais (mesmo na época) do velho mestre, nos idos e vindos de noventa e cinco, um ano após o lançamento do antológico álbum DA LAMA AO CAOS, que voltaria a atenção da música pop mundial para o Recife. "Eu não entendo em que uma música ruim como o rock, possa contribuir com uma coisa boa como o maracatu? - Perguntava o Secretário. Justificando com isso, que não preveria verbas para esse “tal movimento” ao qual tratava simplesmente como rock. Pois bem, passaram-se mais de dez anos e achavamos que o tempo tivesse respondido a pergunta do Mestre, sim, pois indiscutível mesmo nesta vida, só a sabedoria do tempo, mais nada...

A razão do tempo deveria tê-lo feito enxergar, que o som do Manguebeat, e Chico Ciência (como resistia em chamá-lo), não só contribuiu com o velho e bom maracatu, mas foi além, aproximou as novas gerações das nossas manifestações culturais tradicionais, de uma forma muito mais prática, direta, efetiva e pacífica, do que a intelectualidade restritiva do Armorialismo.

Se o Manguebeat bebeu na fonte ou reprocessou as informações, respirando o ar de Casa Forte de passagem pra Rio Doce, sei lá, eu não tenho aqui a intenção da informação, mas uma coisa é certa: O tempo passa, o tempo voa, e a poupança bamerindus, nem sempre continua numa boa... (desculpa). Então hoje, 2007, nos deparamos novamente com o tema, agora muito mais complexo e por sua vez, também tratado de uma forma muito mais ''simplista''pelo Secretário. Só que hoje, além de ao vivo e nos jornais, graças a tecnologia, acompanhamos com a possibilidade de voz a quem queira opinar sobre o assunto, com agilidade na rede. Ariano, no último final de semana em sua cerimônia de posse, uma aula espetáculo aberta ao público no teatro Santa Isabel, concorridíssima com lotação esgotada, de tanta gente querendo prestigiá-lo, em sua fala inaugural de governo, citou infelizmente (ou não), como exemplo da necessidade da implantação de sua particular política cultural, o sucesso da musica, ''Pra me Conquistar'', da Banda Calypso, cantarolou uma estrofe, e referiu-se aos seus compositores como ''idiotas'', “imbecis'', arrancando gargalhadas da platéia. O país é livre, e os artistas mais ainda, mas na posição de Secretário de Cultura empossado, sua opinião, poderia ser respeitada, se fosse em sua casa, ou então, na universidade, ampliando o debate, e discutindo com a sociedade e principalmente com especialistas acadêmicos, que a muito, pesquisam e estudam sobre o tema, e que estão fundamentados em discordar de sua opinião, inclusive, desde o tempo em que equivocou-se, de forma também preconceituosa com o Manguebeat, que tão humilde foi no cumprimento de seu objetivo muito mais amplo do que o pretendido a princípio.

É muito simples dizer que o brega é uma merda, lá no Burbúrio, tem dias que digo isso de duas em duas cerveja, talvez o punk tenha acabado, ou o rock em inglês seja ridículo, ou todo intelectual seja um chato do caralho... isso em um bar é papo ótimo, mas dito pela boca de quem vai gerir a cultura do meu estado, tem outro peso...

E AGORA, O MEU MARACATU, PESA UMA TONELADA!!!

Admiro e respeito o Mestre Ariano, sua obra e movimento, desde que conheci e integrei a família e a universidade do Balé Popular do Recife, nos oitenta e tal, a sua estética e fundamentos fazem pirar qualquer um que se interesse por gente, pela nossa cultura e nosso povo em sua essência de genialidade, complexidade, nobreza, e simplicidade principalmente, pois se não fosse assim, não poderíamos partir do princípio e licença poética de que não somos nada, e disso... Reprocessar, desconstruir, quebrar conceitos, ampliar valores, agregar, evoluir, abrir o peito... são algumas das palavras de ordem que tenho dado ouvido nestes tempos, e tal acusação me fez vestir a carapuça de brega ou a la ursa. Li a resposta do produtor da Banda Calypso, nunca pensei que reveria meus valores a ponto de reverenciar a nobreza de tal Banda. SE O DIABO É O PAI DO ROCK, O HD É DEUS DE TUDO... VIVA XIMBINHA, VIVA O DJ DOLORES, VIVA OS MARACATUS DE ALIANÇA, E PRESERVEM AS BALEIAS...
Eu num sei tu, mas: EU VIM COM A NAÇÃO ZUMBIII!!!!

sexta-feira, 6 de abril de 2007

fragmentos de uma viagem - Rogerman e os emos

Olinda, Alto da Sé, Escola de Samba Preto Velho, Festa Criolinda, organizada por Rogerman (Bonsucesso Samba Clube), num esforço de animar a cidade. Rogerman está bravo, não agüenta mais os emos e a falta de espaço pra sua banda. Diz que os emos deturparam o punk, copiam o que vêem na MTV, não criam nada, não têm atitude. Diz que está de mudança pra São Paulo. Mas que é contra a sua vontade, apenas porque não encontra espaço em Olinda. Termina seu longo discurso dizendo: eu sou adepto do “Do it yourself”, eu acho importante morar na minha cidade, que o menino da minha rua me veja no palco e depois me veja abrindo a porta da minha casa, eu acho importante viver o “original Olinda style”, um modo de viver e fazer música de Olinda, do meu lugar.


quinta-feira, 5 de abril de 2007

mundo livre na tv

Esse saiu ontem no blog do Ricardo (http://odia.terra.com.br/blog/ricardocalazans/).

MUNDO LIVRE NA TV
Agora há pouco, num dos intervalos da final do ‘Big Brother Brasil 7’, a TV exibiu um comercial de um minuto da Azaléia. E a melhor coisa do reclame era a trilha sonora: na telinha, uma penca de modelinhas bem jeitosas desfilavam sandalinhas ao som de ‘Meu Esquema’, da banda pernambucana mundo livre s/a. É de se imaginar como ela parou ali.Fiquei pensando se por acaso algum moleque (ou mocinha), nascido por volta de 1980, não deu a sorte de cruzar, durante a fase de crescimento, com algum dos discos do mundo livre. ‘Por Pouco’, o que traz ‘Meu Esquema’, é de 2000. A música também foi tema de um programa da Luana Piovani na MTV. Tanto faz como a música entrou na vida dela (ou dele). E se o garoto (ou a menina) cresceu, foi trabalhar numa agência de publicidade e teve a manha (e a sorte) de emplacar uma música do Fred Zero Quatro (o autor da música) em horário nobre? Se isso aconteceu, ainda há esperança para a Humanidade...

quarta-feira, 28 de março de 2007

Fragmentos de uma viagem - Samuel II

"Eu fui ao show e eu não sei se foi impressão, mas Chico olhou só pra mim o show inteiro. As meninas também. Eu não sei se é porque eu acendi um trambolho grandão assim, jamaicano (trambolhão assim, durou o show inteiro) ou se era por causa da touca. Fez sucesso aquela touca, viu? As meninas tudo pegando na touca, "joga pra mim, joga pra mim", brincando comigo. Sabe touca de assaltante? Aquela assim, que só fica o olho de fora? Pronto! Era preta e tinha um troço assim na frente. Um amigo meu roubou o banco do brasil aqui, fugiu pra são paulo e deu pra mim. Mas aquilo fez um sucesso, Chico olhou pra mim o show inteirinho". (Samuel, 32 anos, taxista)

by Clarisse Vianna

terça-feira, 27 de março de 2007

Fragmentos de uma viagem - Samuel I

Recife. Chego no hotel e meu celular toca. DJ Dolores quer me indicar um taxista que acabou de conhecer, um fã de Chico Science. Ligo pra Samuel, o taxista, que me traz um livro sobre seu ídolo. Um livro que eu não conhecia. Samuel faz questão de me emprestar. Ele nos leva pra dar uma volta pela cidade e conta de todo seu envolvimento com o Manguebeat. Me pergunta: quem te deu meu telefone foi Helder, não foi? Digo que sim. Ele então me diz que sabe que Helder é músico, mas não lembra de que banda. Me pergunta se é do Mestre Ambrosio. Digo pra ele que Helder é DJ Dolores. Ah, meu Deus, aquele é DJ Dolores? O homem veio no meu táxi e eu não sabia, e ele é famoso da porra!!

segunda-feira, 26 de março de 2007

Taí!

Taí dois conceitos para o que é Manguebeat! Na coluna “Escuta aqui”, de Álvaro Pereira Júnior, na Folha de São Paulo. Saiu no dia 05 de fevereiro.

EU NÃO gosto de mangue beat. Estou falando do som. Repetitivo, sem melodia, em geral mal-produzido. *

Mas gosto de mangue beat. E aí estou falando das idéias e da atitude. Do olhar amplo, voltado para o mundo, regional sem ser provinciano. Na sexta-feira passada fez dez anos da morte de Chico Science, fundador e líder da Nação Zumbi, até hoje na ativa.

No auge desse tipo de som, anos 90, eu não estava nem aí. Do Recife, eu só gostava dos Devotos do Ódio, justamente porque rejeitavam essa mistura com ritmos regionais ("Somos uma banda de hardcore!", diziam).

Meu "coming of age" foi nos anos 80, em que a esquerda stalinista, com forte presença na crítica cultural, valorizava a cultura nativa e a produção artística "de protesto". Minha repulsa a essas idéias já naquela época mofadas era total. Anos de leitura voraz dos textos de Paulo Francis só faziam reforçar meu desprezo pelo regionalismo.

Quando o mangue beat chegou, despachei-o imediatamente para o compartimento cerebral destinado à arte regionalista. Tentei escutar Nação Zumbi, mundo livre (na época era tudo em minúscula). Amigos diziam que eram vitais, contemporâneos. Mas eu não conseguia passar da segunda ou terceira faixa. Até hoje não consigo.

Se fechei os ouvidos à música, não deveria ter fechado os olhos às idéias. Chico Science, Fred 04 e outros sabiam do que estavam falando. Muito antes de a internet se popularizar no mundo, eles já vislumbravam um universo interconectado, de disseminação rapidíssima de idéias. Eram, na falta de palavra melhor, modernos, gente carregada de informações e de referências, vinda de longe dos supostos centros culturais brasileiros.


* Isso é uma opinião do Álvaro. Quanto a isso, só posso dizer, “cada um com seu cada um”

segunda-feira, 19 de março de 2007

E a tradição?


Dez anos após a morte de Chico Science ainda reverbera o mote que introduz “da lama ao caos”, o primeiro CD de Chico Science & Nação Zumbi: “Modernizar o passado é uma evolução musical.”
A consagrada mistura que o “alquimista dos sons” fez entre hip-hop e maracatu e revolucionou a música brasileira irritou Ariano Suassuna, o menestrel do Movimento Armorial. Nesse sentido, Renato L, diz que as diferenças entre o Mangue e o Movimento Armorial são intransponíveis:

A tentação de colocar numa espécie de solução em formol as manifestações populares nunca fez parte de nossos planos. Muito pelo contrário, a idéia era dar condições para que elas pudessem dialogar com o mundo contemporâneo, fertilizando-se no processo e assim voltando à vida. A homenagem que os maracatus prestaram à memória de Chico durante o seu velório foi a maior prova de reconhecimento desse trabalho.

A despeito dos queixumes de Ariano Suassuna, o fato é que foi a partir do sucesso de Chico Science que a batida do maracatu se espalhou pelo Brasil e pelo mundo. Hoje se tem grupos de maracatu no Rio, em Florianópolis e até em Nova York, para citar apenas três lugares. Como disse Mestre Valter, citado pela inglesa Nicki Dupuy, em pesquisa que ela efetuou sobre o Manguebeat:

Chico (Science) nos deu um grande suporte. Ele fez isto reemergir. Porque ele nos trouxe o povo. Ele trouxe adultos, jovens e crianças. Ele fez nosso ritmo, nossa cultura, nossa cor reemergir.

Então, isso significa que Mangue é a mistura entre o tradicional e o popular? Não parece ser tão simples assim. Cito aqui o que DJ Dolores afirma no documentário “ensolarado byte”:

Tem uma expressão que eu detesto que é o “mix da tradição com a modernidade. Como se tocar rabeca não fosse uma coisa contemporânea, não fosse uma coisa tão moderna como tu tocar um disco ou tocar um sampler. Esse tipo de oposição é irreal e acho que é meramente um estereotipo fácil, uma leitura muito fácil de uma possibilidade musical rica.

DJ Dolores contesta quando chamam seus shows de mix de tradição e modernidade, por ele tocar com seu laptop e suas máquinas dividindo o palco com a rabeca de Mestre Salustiano. Isso parece se aproximar mais do que a Cena Mangue propunha.

Seria essa a mistura entre tradição e modernidade presente no Mangue, na verdade uma não mistura, em que o supostamente tradicional não é visto como em oposição ao supostamente moderno? Não há dualidade, mas convivência?

Para saber mais sobre a polêmica entre o Ariano Suassuana e a Cena Mangue, leia a dissertação “O Encontro do Velho do Pastoril com Mateus na Manguetown ou As tradições populares revisitadas por Ariano Suassuna e Chico Science”, de Anna Paula de Oliveira Mattos Silva, defendida pela PUC e vencedora do Prêmio Romero Britto.
Sobre a relação da Cena Mangue com o maracatu, há a dissertação “As Nações de Maracatu do Recife e o maracatu no Rio – algumas reflexões sobre tradição, ressignificação e mediação cultural”, de Aline Valentim de Albuquerque, defendida na UERJ.

quinta-feira, 15 de março de 2007

as perguntas

Um dia, meu amigo Helio me pediu para ler meu material de pesquisa. Ao mandar o meu texto de qualificação para ele, recebi a resposta:
"Menina Rejane... recebi o material, lerei com o maior prazer e atenção do mundo! Você não sabe e nem imagina como o Manguebeat mudou a minha vida! Um beijão!"
Algum tempo depois, fui apresentar minha pesquisa na Puc, num curso oferecido pela professora Santuza Cambraia Naves. Depois da aula, recebi o email de um aluno, Rafael Saldanha, que dizia:
"Durante a aula eu fui lembrando toda a minha adolescência através do Mangue..."

Fiquei muito feliz em receber essas mensagens. Porque assim como o Manguebeat faz parte das memórias de Helio e Rafael, também faz das minhas. Não é um tema de pesquisa distante. Pelo contrário. Lembro muito bem a primeira vez que ouvi Chico Science & Nação Zumbi, assim como o show que assisti no Circo Voador, com Chico vestido de Caboclo de Lança. E uma das coisas que me tem chamado atenção durante o percurso da minha pesquisa é a diversidade de entendimentos que se tem sobre o que é o Manguebeat. E o como esse entendimento está relacionado, é claro, à relação que cada um estabelece com o que é conhecido como Manguebeat.

Assim, duas perguntas são fundamentais para se entender a diversidade de significados relacionados ao Manguebeat:

"Qual sua primeira memória relacionada ao Manguebeat?"
"O que você entende por Manguebeat?"

A essas perguntas, muitas respostas. Aí vão algumas delas:

A minha memória mais forte é a do show do CSNZ no Geraes Rock Festival, em 1996, lá em Juiz de Fora. Eu tinha 14 anos e foi dos primeiros shows que eu vi... Inesquecível. Depois vi shows do Mundo Livre, da Nação... Mas não se compara àquele. Minha lembrança mais antiga relacionada é justamente como eu conheci o Manguebit: achei o "Da Lama ao Caos" num sebo por R$5,00. Pra minha sorte, alguém comprou, ouviu e não gostou. E assim meus paradigmas musicais foram mudados.

Pra mim, Manguebeat é o som de Recife do início dos anos 90, e as coisas influenciadas por ela. Esse som era marcado por uma liberdade de mistura (não necessariamente a fórmula Pop + Popular) e por um sentimento de afirmação de uma identidade sul-americana, brasileira, nordestina, pernambucana e recifense...

Rafael Saldanha

grupos artístico-musicais com uma proposta que distoava, graças a deus, dos ritmos existentes na época. além de agregar contestação social com o lirismo das letras e das músicas. Chico Science, claaaro.
Um movimento que busca agregar contestação social com o lirismo das letras e das músicas.

Ana Luiza de Abreu

Não sei muito sobre o movimento, mas esse nome me remete ao cantador Chico Since e a Nação Zumbi. Sei apenas que o manguebeat foi um movimento musical nascido no Recife, que mistura vários sons de percussão e guitarra.
Sei apenas que o manguebeat foi um movimento musical nascido no Recife, que mistura vários sons de percussão e guitarra.

Amanda Chamusca

Lembro que por volta de 1997 (se não me engano). Estava botando som num reveillon de amigos em Rio da Ostras, quando um deles me trouxe um Cd da Nação Zumbi (com Chico ainda, claro) e pediu para botar. A princípio todos torceram o nariz mas depois gostaram, Foi bem legal. Acho que neste mesmo ano fui a um show na Apoteose (Coke Reggae ou algo assim, e umas das bandas que abriram foi a Nação Zumbi) ainda era de dia e estava vazio, ninguém estava muito interessado no show,mas eu dancei à beça!
Manguebeat é um movimento musical, mas também social que resgata as raízes da música pernambucana, como côco e maracatu e mistura com guitarras e bases modernas. Muito bom! Teve origem na Viasat, Mundo Livre, Nação Zumbi, etc...

Rafael Andrade

Ainda continuo minha campanha na coleta de depoimentos. Comentários são todos bem vindos!!

segunda-feira, 12 de março de 2007

o filme

Minha inspiração para pensar na Cena Mangue como um filme veio dos textos escritos por Renato L.

Eu estava no Cantinho das Graças, um bar sem qualquer atrativo freqüentado pela galera. Na mesa acho que bebiam Mabuse[1], Fred[2], Vinicius Enter[3] e outros. De repente, Chico[4] apareceu e sem nem sentar foi anunciando “olha fiz uma jam session* com o pessoal do Lamento Negro e mesclei uma batida disso com uma batida daquilo e um baixo assim...vou chamar esse groove* de Mangue![5]

Sendo considerado o Ministro da Informação da Cena Mangue, o jornalista Renato L foi um dos seus principais idealizadores e articuladores. Seus textos se tornaram importantes fontes para minha pesquisa e sempre me inspiraram a visualizar as situações ali descritas. Depois de lê-los e relê-los diversas vezes, fiz aquela declaração à Clarisse. Na verdade, minha declaração foi feita de forma muito ingênua e não imaginava que pudesse ser realizada. Foi Clarisse quem me incentivou e me mostrou os caminhos a serem percorridos para a concretização. Juntas fizemos o projeto do documentário “A lama, a parabólica e a rede”.

O documentário se constrói como uma busca pelo Mangue, viagem rumo à sua descoberta. Saímos do Rio de Janeiro, passamos por São Paulo, indo em direção a Recife. Nosso ponto de partida tem uma razão fundamental: assumindo o lugar de onde fala, o filme parte das imagens do Mangue construídas no eixo Rio- São Paulo, divulgadas pelos veículos da grande mídia. São essas as idéias retorcidas e reviradas durante o percurso. Nossos entrevistados são alguns dos principais nomes dessa cena em suas diversas manifestações: músicos, jornalistas, cineastas, agitadores culturais e público.Nessa viagem, buscamos alguns significados do Mangue e do que levou a Cena Mangue a se configurar como Movimento Manguebeat.

Já realizamos a maior parte das filmagens, faltando apenas finalizar as gravações em São Paulo, devido a um acidente: a câmera quebrou e não conseguimos terminar as entrevistas marcadas para a capital paulistana. Mas essa é uma outra história.

[1] José Carlos Arcoverde, designer e produtor multimídia, espécie de “ministro da tecnologia” do Mangue
[2] Fred 04, codinome de Fred Montenegro,líder da banda mundo livre s.a.
[3] Codinome de Vinicius Vasconcelos, guitarrista
[4] Chico Science, codinome de Francisco França, líder da banda Chico Science & Nação Zumbi, morto em um acidente de carro em 1997
[5] L, Renato “Mangue Beat – Breve histórico do seu nascimento” In: Manguetronic (http://www.notitia.com.br/manguetronic/newstorm.notitia.apresentacao)

quinta-feira, 8 de março de 2007

a conversa

Foi em dezembro de 2005. Eu estava teclando com Clarisse, no MSN.

rejcal
[1] diz:
eu queria fazer um filme sobre o “manguebeat”... acho que daria um bom filme

a taturana peremptória
[2] diz:
porque você não faz?

a taturana peremptória diz:
Um documentário?

a taturana peremptória diz:
Sobre o mangue?

rejcal diz:
Um filme ...contando a história de como surgiu

rejcal diz:
Uns caras que ficavam bebendo cerveja

rejcal diz:
E a idéia foi surgindo

rejcal diz
Um dia deu um estalo

rejcal diz
E eles mudaram a cidade
...
a taturana peremptória diz:
Inclusive uma espécie de ma king off literário, sobre a sua tese
...
rejcal diz:
Sim, só preciso de câmeras

a taturana peremptória diz:
Uma câmera só

a taturana peremptória diz:
Uma câmera e alguém para operar
....
a taturana peremptória diz:
Sério, acho que seria legal

[1] meu nick
[2] nick de Clarisse

segunda-feira, 5 de março de 2007

Oh Josué!!


Há quem diga que a relação de Josué com a Cena Mangue é meramente incidental, não sendo uma influência de fato. O jornalista Jose Telles, em uma entrevista para essa pesquisa, revelou ter sido quem indicou a leitura de Josué de Castro para Chico Science, que teria lido apenas o romance escrito por Josué: "Homens e Caranguejos". Um aluno da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro me contou uma história de que Chico Science freqüentava a biblioteca para ler os livros de Josué e, voltando para casa, encontrou um mendigo pedindo comida no ponto de ônibus. Chico então tirou seu sanduíche da mochila, deu ao mendigo e bolou o famoso refrão: “Oh Josué, eu nunca vi tamanha desgraça. Quanto mais msiéria tem, mais urubu ameaça”. Não sei como ele ficou sabendo dessa história. Ou talvez não tenha sabido mesmo. Só tenha inventado. É assim que nascem os mitos!

Verdade ou não, quem leu ou não leu Josué, não é mais significativo do que a escolha dele como referência para os mangueboys. Josué não apenas está presente como um interlocutor imaginário em algumas músicas de Chico Science, como sua influência pode ser lida nas entrelinhas de muitas outras músicas, não só da Nação Zumbi como de outras bandas. Assim como aparece nomeadamente no texto de “Caranguejos com Cérebro”, release escrito por Fred 04, em 1992, que se transformou no manifesto do Manguebeat:
"Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência. "

O certo é que a Cena Mangue extrapola essa conexão com o pensamento de Josué de Castro. E apesar de minha porta de entrada na pesquisa ter sido o autor de “Geografia da Fome”, essa se tornou uma porta dentre tantas que começaram a aparecer desde que iniciei meu doutorado. Nesse tempo, o Manguebeat tem se revelado para mim um tema diverso com uma incrível riqueza e generosidade de aspectos, da mesma forma que o mangue se revelou como um ambiente riquíssimo e diverso para os mangueboys. Assim, me dedico a fazer uma etnografia do Manguebeat, pensando na formação da Cena Mangue, na transformação da Cena em Movimento Manguebeat e nos reflexos disso atualmente. Oh, Josué que me ajude a fazer essa tese!


A quem interessar possa, existe uma dissertação que aborda a conexão entre a obra de Josué de Castro e as músicas de Chico Science, especialmente no que diz respeito aos mocambos de Recife. Se chama “Geografia e Literatura: decifrando a paisagem dos mocambos do Recife”, de Maria Amélia Vilanova Neta, defendida em 2005, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Mangue beat. Manguebeat. Manguebit.

O texto abaixo foi publicado na coluna do Silvio Meira no dia 02 de fevereiro, em homenagem aos 10 anos da morte de Chico Science (http://g1.globo.com/Noticias/Colunas/0,,7421,00.html).

Mangue beat. Manguebeat. Manguebit.

O movimento mangue mudou a história da música e da expressão artística no Recife nos anos 90. E foi essencial na criação da atitude que resultou no Porto Digital, o sistema local de inovação de tecnologia de informação do Recife.

Dois de fevereiro é dia de Iemanjá. É meu aniversário, também. E foi num domingo, no dia em que Chico Science estava indo de Recife a Olinda, naquele fim de tarde de sol em 1997, pra ver a Cabralada tocar. Esperamos, esperamos, o maracatu era energia pura, a Treze de Maio lotada, mas Chico nunca chegou. Chico nunca chegou e, no fim da noite, eu estava no necrotério, com Sonaly Macedo, onde Chico tinha ido parar depois de um acidente inacreditável no Salgadinho. Foi o pior aniversário da minha vida.

O povo do mangue, nome de beat tão interessante quanto a batida propriamente dita, renovou a cena musical do Recife e de boa parte do Brasil como se fosse um big bang. Chico, 04, Mabuse, Renato L, Lúcio Maia e tantos outros teóricos e práticos do movimento botaram nossas vidas de ouvido pra baixo. A trilha de quase tudo, aqui, era de repente daqui mesmo e pra mim, que começava a entender o encanto de alfaias, abês e loas dos maracatus de baque virado, o beat do mangue era como se fosse meu. E não era só eu, muito mais gente tava na mesma onda, atitude, jeito de enxergar o mundo, de misturar as idéias, de achar que muito, muito mais era possível.

Dois anos antes daquela tarde de maracatu em Olinda, virei professor titular do Centro de Informática da UFPE, numa cerimônia tradicionalmente precedida por um conjunto de câmera executando Bach, Mozart e similares. Pois pra mim foi Júlio Glasner no som, detonando Computadores fazem Arte (artistas, como dizia Chico, fazem dinheiro) quando entrei no auditório e Da Lama ao Caos depois do discurso de posse e antes da cana que durou dois dias... Tudo de acordo com a letra: “...eu me organizando posso desorganizar/ ...eu desorganizando posso me organizar”.

Nosso lema na informática da UFPE era e ainda é Ciência & Gréia. Ou Competência com Irreverência. Dá no mesmo. No começo da década de 90 nós também estávamos achando que não só era preciso mudar, mas que era possível mudar. O caldo de cultura que se pensava, via e ouvia no delta do Capibaribe, principalmente depois que o movimento mangue começou a tormar forma e nós começamos a nos ver nele e como parte dele, era a base de onde muitos de nós tiramos idéias e energia para começar uma aventura de tecnologias da informação que continua sendo construída, como a mesma força de antes, até hoje. E que não dá sinais de voltar atrás.

Recife sempre teve empresas de software. Sempre, aqui, significa desde a década de 60, quando a maioria dos leitores não tinha nascido e eu ainda jogava bolinha de gude. E tinha empresas porque havia uma demanda regional sofisticada e capaz de sustentar empresas locais que viriam a ter caráter nacional décadas depois. Mas a globalização começou a pegar a periferia com todo seu poder de destruição e renovação, bem no tempo do movimento mangue, na década de 90. Foi o fim dos bancos locais e regionais, a falência das pequenas indústrias, o fim dos incentivos da Sudene. Enfim, o fim de muitos sonhos, planos e projetos.

E os acadêmicos de Recife tinham sonhos, planos de construir centros de ensino e pesquisa que contribuíssem para o crescimento da economia local, para a geração de emprego tecnológico, para a criação de novas empresas. Mas a globalização tirava nosso tapete a cada dia e os alunos que formávamos tomavam o rumo do Rio, São Paulo, Seattle e Londres. Foi aí, nesta mesma época, que o povo da tecnologia, tanto os mais novos quando os mais velhos do que Chico, resolveram mudar o jogo. Se Chico fazia para o mundo, por que não nós, também?

Se a economia local -- que demandava uma informática local -- estava desaparecendo em suas formas clássicas, porque não apostar em uma informática de classe mundial, feita aqui mas para o mundo, atraindo para cá problemas complexos e criando demandas locais que poderiam não só manter muitos dos nossos melhores cérebros aqui mas, ao mesmo tempo, atrair gente de fora pra cá, como tanta gente que estava sendo tragada pra Recife por causa, exatamente, do mangue beat? Se nosso mangue “bit” fizesse o mesmo, poderíamos, com o tempo -- quem sabe?- - tornarmo-nos muito mais relevantes...

A partir do começo dos anos 90, Recife atraiu o Softex (programa nacional de software), a RNP (Rede Nacional de Pesquisa), vários programas de pesquisa cooperativa em TICs nas universidades, as empresas de software se fortaleceram e aumentaram em número, suas associações se tornaram mais sólidas, o C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) apareceu, gerando (hoje) mais de 600 empregos em TICs e atuando diretamente na criação ou renovação de mais de trinta empreendimentos. Em 2000, o esforço desembocou no Porto Digital, sistema local de inovação situado no antigo bairro do Recife, o mesmo do Bar Fogão onde o povo do mangue bebia sempre.

O Fogão desapareceu. Mas cento e tantas empresas de software e de sua cadeia de valor vieram para o Porto Digital, trazendo mais de três mil pessoas que tornam vivo, de dia, o bairro que só existia à noite, quando os caranguejos com cérebro faziam uma festa em algum lugar.

O mangue não é mais o mesmo. A batida ideal que Chico procurava gerou muitas batidas possíveis, de Otto a Silvério a Cordel a Mombojó a Carfax, entre muitas outras. A busca de Chico fez renascer os maracatus, base de muitas de suas batidas, que estavam mais prá lá do que prá cá antes dele. Hoje há muitas dezenas de batuques ativos, formados depois que as alfaias -os pesados tambores de madeira do Nação Zumbi- ganharam o status dado pelo mangue. É como se um pedaço da África tivesse, de novo, desembarcado aqui, cheio de esperança, seus tambores embalados de alma e vida.

Para nós, de tecnologia, foi e é o mesmo. Aprendemos com Chico e o povo do mangue que é possível conceber, criar e fazer aqui. E levar tudo, pro mundo, a partir daqui. Estamos e vamos continuar fazendo isso. Com parabólicas e fibras óticas apontadas para o mundo, os pés no mangue, na periferia, na história da qual não podemos e não queremos fugir, fazemos do e no Recife o liquidificador de coisas ao qual nada é imune. Entra dia, sai ano, haverá alguém escrevendo um manifesto. Outro alguém atrás de mais uma batida ideal. Outros escrevendo software, gente fazendo design e interfaces, uns tantos testando, outros criando robôs, fazendo circuitos integrados, celulares, o que vier.

Ainda acho que não é uma boa idéia lembrar a morte pra comemorar vidas. Mas assim manda a tradição. Prefiro comemorar aniversários, como se estivéssemos todos vivos. Como Chico está. Na Cabralada, domingo passado, depois do ensaio, o batuque continuou tocando bases do CSNZ de 1994. Mas não é só: mais do que na música, o legado de Chico vive em todos os que lutam, nas suas muitas periferias, para fazer muito mais do que os poucos centros do mundo dizem que eles deveriam se limitar a fazer. Viva Zapata, viva Sandino, viva Zumbi!...

quinta-feira, 1 de março de 2007

O início


Tudo começou com o Celso, eu queria estudar o Nordeste de Celso Furtado. Depois Gilberto chegou de mansinho e resolvi escrever sobre as concepções de Nordeste de Gilberto Freyre e Celso Furtado, seus contrastes e suas aproximações. Até que, num bizarro dia, eu estava num congresso, falando justamente sobre as agruras de se escolher um objeto de estudo, quando surgiu uma aparição: uma mulher toda de branco me cutucou. Ela me falou que eu deveria mesmo era estudar Josué de Castro.E depois sumiu.[1] Aí veio meu projeto megalomaníaco: escrever uma dissertação que contrastasse as concepções de Nordeste de Gilberto Freyre, Celso Furtado e Josué de Castro.
Mas, no momento da qualificação, entendi como uma banca pode acabar com nossos devaneios. Foi, a banca me chamou à terra, me mostrando que eu não cumpriria isso no curto período de um mestrado. Fiz, então, a dissertação "Conversas Nordestinas: Celso Furtado e Gilberto Freyre". Mas minha vontade de estudar Josué de Castro permaneceu. Eu estava decidida: o médico pernambucano seria o tema do meu doutorado.
Andando pela Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio, entrei em uma livraria e me deparei com o livro "Josué de Castro e o Brasil". O comprei e li seus artigos à procura de inspiração para escrever meu projeto de doutorado. Entre eles, encontrei "Uma hermenêutica do ciclo do caranguejo", do médico Djalma Agripino de Mello Filho, que chamava a atenção para a conexão entre Josué de Castro e os mangueboys. Pronto, achei meu tema! Sendo fã das bandas Nação Zumbi e mundo livre s.a., consideradas o núcleo do chamado Manguebeat, pensei em unir o útil ao agradável. Minha idéia era analisar a atualização do pensamento de Josué de Castro proposta pelos mangueboys. E assim comecei minha pesquisa, chamada "Mangue: a lama, a parabólica e a rede".
[1] Depois descobri que era só uma professora que estava passando pela sala e resolveu entrar.