segunda-feira, 19 de março de 2007

E a tradição?


Dez anos após a morte de Chico Science ainda reverbera o mote que introduz “da lama ao caos”, o primeiro CD de Chico Science & Nação Zumbi: “Modernizar o passado é uma evolução musical.”
A consagrada mistura que o “alquimista dos sons” fez entre hip-hop e maracatu e revolucionou a música brasileira irritou Ariano Suassuna, o menestrel do Movimento Armorial. Nesse sentido, Renato L, diz que as diferenças entre o Mangue e o Movimento Armorial são intransponíveis:

A tentação de colocar numa espécie de solução em formol as manifestações populares nunca fez parte de nossos planos. Muito pelo contrário, a idéia era dar condições para que elas pudessem dialogar com o mundo contemporâneo, fertilizando-se no processo e assim voltando à vida. A homenagem que os maracatus prestaram à memória de Chico durante o seu velório foi a maior prova de reconhecimento desse trabalho.

A despeito dos queixumes de Ariano Suassuna, o fato é que foi a partir do sucesso de Chico Science que a batida do maracatu se espalhou pelo Brasil e pelo mundo. Hoje se tem grupos de maracatu no Rio, em Florianópolis e até em Nova York, para citar apenas três lugares. Como disse Mestre Valter, citado pela inglesa Nicki Dupuy, em pesquisa que ela efetuou sobre o Manguebeat:

Chico (Science) nos deu um grande suporte. Ele fez isto reemergir. Porque ele nos trouxe o povo. Ele trouxe adultos, jovens e crianças. Ele fez nosso ritmo, nossa cultura, nossa cor reemergir.

Então, isso significa que Mangue é a mistura entre o tradicional e o popular? Não parece ser tão simples assim. Cito aqui o que DJ Dolores afirma no documentário “ensolarado byte”:

Tem uma expressão que eu detesto que é o “mix da tradição com a modernidade. Como se tocar rabeca não fosse uma coisa contemporânea, não fosse uma coisa tão moderna como tu tocar um disco ou tocar um sampler. Esse tipo de oposição é irreal e acho que é meramente um estereotipo fácil, uma leitura muito fácil de uma possibilidade musical rica.

DJ Dolores contesta quando chamam seus shows de mix de tradição e modernidade, por ele tocar com seu laptop e suas máquinas dividindo o palco com a rabeca de Mestre Salustiano. Isso parece se aproximar mais do que a Cena Mangue propunha.

Seria essa a mistura entre tradição e modernidade presente no Mangue, na verdade uma não mistura, em que o supostamente tradicional não é visto como em oposição ao supostamente moderno? Não há dualidade, mas convivência?

Para saber mais sobre a polêmica entre o Ariano Suassuana e a Cena Mangue, leia a dissertação “O Encontro do Velho do Pastoril com Mateus na Manguetown ou As tradições populares revisitadas por Ariano Suassuna e Chico Science”, de Anna Paula de Oliveira Mattos Silva, defendida pela PUC e vencedora do Prêmio Romero Britto.
Sobre a relação da Cena Mangue com o maracatu, há a dissertação “As Nações de Maracatu do Recife e o maracatu no Rio – algumas reflexões sobre tradição, ressignificação e mediação cultural”, de Aline Valentim de Albuquerque, defendida na UERJ.

Um comentário:

Anônimo disse...

Es un placer haberte encontrado en este espacio, muy enriquecedores tus posteos, tal vez te resulte extraño que este escribiendo estas lineas para ti, pero tengo la necesidad de expresarte que siento un gran placer al conocer los movimientos culturales de las distintas ciudades, ya que aca, en Buenos aires, donde vivo, estamos atacados permanentemente por ataques extranjerizantes, y ademas te cuento que ultimamente estuve viajando por Brasil, en uno de mis tantos viajes, y dejando de lado mi visión de turista me interiorizo en los distintos pueblos y barrios de los lugares que visito, y en este año viaje a Recife, y verdaderamente quede asombrado, y emocionado con su gente, gente buena, calida, amable, sincera, humilde y de gran corazón, en contra de esos pre-conceptos que a veces la gente tiene. Justamente me hice amigo de una persona que vive en Casa Amarela, en Alto Jose Do Pinho, y sinceramente volvi emocionado y con ganas de volver a compartir mi vida con ese pueblo, Casa amerela, Olinda, Ipojuca, Nossa Senhora Do Ò, Igarassu, Abreu E Lima, .....que gente tan noble, y tantos otros pueblos que me emocionaron, Muy interesante tu post sobre el punk, excelente, me gustaria seguir en contacto contigo y espero y pido disculpas por mi lengua, ya que es mucho mas facil por el momento escribir en Español, ya que estoy aprendiendo en un instituto a hablar en portugués, en proximos mensajes empezaré a escribirte en Portugues.
Mi e-mail: robertoromera@hotmail.com

Mis saludos cordiales.