sábado, 22 de dezembro de 2007

Achei Richard Hell simplesmente incrível. (...) Era um cara desmantelado, arrasado, parecendo que tinha recém-rastejado para fora de um bueiro, parecendo que estava coberto de lodo, parecendo que não dormia há anos, parecendo que não se lavava há anos e parecendo que não dava a mínima pra você!! Era um cara maravilhoso, entediado, acabado, marcado, sujo, com uma camisa rasgada. E esse visual, a imagem desse cara, aquele cabelo todo espetado, tudo nele. (Malcom Maclaren - Mate-me por favor)






Ao ser inspirado por essa imagem, eu iria imitá-la e transformá-la em algo mais inglês. (...) E, de fato, lembro de ter dito aos Sex Pistols: "Escrevam uma canção como Blank Generation. Mas escrevam sua própria versão arrasadora". E a versão deles foi Pretty Vacant. (Malcom Maclaren - Mate-me por favor)





Mas fiquei completamente puto quando ouvi Pretty Vacant, dos Sex Pistols, pela primeira vez. Malcolm tinha roubado toda a atitude de Blank Generation. Mas as idéias não têm dono. Também roubei umas coisas. (Richard Hell - Mate-me por favor)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Continuando...Patty Smith

Aquela cena do início da década de 1970, que ainda não se sabia punk, se desenrolava no leste de Manhattan, entre os clubs CBGB, Mercer Arts Center e Max's Kansas City .

Mas não era qualquer um que conseguia entrar nesse reduto. Patti Smith era uma que tentava, tentava e tentava entrar no Max.

"Quando começaram a aparecer no Max's Patti Smith e Robert Mapplethorpe não podiam entrar. Eles eram um tanto deselegantes visualmente - Robert usava chapelões de camurça mole, e grandes camisas universitárias e tinha um visual bem ruim. Patti tinha um visual um pouquinho mais legal, usava roupas rasgadas, feias e sujas.

Acredito que Mickey Ruskin achou que eles não tinham o visual certo. E, justiça seja feita a eles, porque é uma coisa que provavelmente não teria coragem de fazer. Patti e Robert sentavam no cordão da calçada em frente ao Max's
e falavam com todo mundo que entrava e saía. Isto parecia fabuloso pra mim. Eu não teria ousado fazer isto se nao pudesse entrar. Simplesmente teria desaparecido. Eu admirava o peito de Patti de sentar ali e dizer: "É aí que quero ir, e se não me deixam entrar, vou ficar sentada do lado de fora." Era uma atitude punk antes de haver uma atitude punk. (Lee Childers)





Patti era uma garota que me acordava às nove da manhã dizendo: "Penny?" Eu dizia: "O que é, Patti?" "É aniversário de Bobby.""Que Bobby?""Bob Dylan." Patti viveu a vida toda fingindo ser John Lennon, ou Paul McCartney, ou Brian Jones, ou algum outro rock star. (...) Outras pessoas têm camaradas imaginários, mas Patti tinha camaradas imaginários que eram Keith Richards e gente desse tipo.

Patti queria conhecer Keith Richards, fumar como Jeanne Moreau, andar com Bob Dylan e escrever como Arthur Rimbaud. Ela tinha esse incrível panteão de ícones no quais estava se moldando. Na real ela tinha uma visão romântica de si. Patti tinha ido pra faculdade e ia ser uma professora, mas aí saltou fora do esquema de vida da classe trabalhadora de Nova Jersey. (Penny Arcade)





Eles eram punks antes do punk

Era o fim da década de 1960 e o início da década de 1970 e a palavra punk ainda não constava no dicionário como “pessoa jovem que gosta de musica punk e se veste de uma forma chamativa e não convencional (...)” ;“(...) uma música tocada de forma rápida, alta e agressiva e freqüentemente é um protesto contra atitudes e comportamentos convencionais.”[1]; “(...) movimento contestador reunindo jovens que exibem vários signos exteriores (cortes de cabelos, roupas) de provocação e escarninho com relação à ordem social vigente”; “(...)corrente musical surgida na Inglaterra na Grã-Bretanha”[2]; “(...)membro de movimento não conformista surgido na Inglaterra ao final dos anos 1970 que adota diversos sinais exteriores de provocação por completo desprezo aos valores estabelecidos pela sociedade.”[3]

James Chance, que está aí embaixo com The Contortions lembra que Originalmente, punk significava um cara na cadeia que é estuprado. E ainda significa isso para o pessoal na cadeia.(Punk Attittude - documentário de Don Letts)

Naquela época o Rock Progressivo estava no auge:

Por volta de 1971 foi inventado o mini-moog: um sintetizador portátil, no tamanho de uma máquina de escrever elétrica, tomando o lugar dos teclados tradicionais em muitos grupos de rock. Esta foi a tecnologia básica de um novo gênero de som circense e alienante chamado space rock (rock espacial). Tão em voga quanto o rock progressivo. As ambições e pretensões dos músicos desses dois gêneros de rock eram tamanhas que a coisa era considerada (por eles mesmos)...neoclássica. E vendia tanto que esses supergrupos já eram, basicamente, corporações multinacionais. [4]

E enquanto o rock progressivo se consagrava em todo o mundo, Nova York tinha, às margens de sua urbanidade, uma vida noturna pouco virtuosa e nada progressiva. A recusa ao rock progressivo não era improdutiva: havia a idéia de uma regeneração que só era possível destruindo, mediante o escárnio e a ação contrária, o totem do rock progressivo. Assim se buscava impor a noção de um grau zero na música.[5]

Dick Manitoba - The Dictators: E na Nova York antes de 75, a cena punk rock estava começando a borbulhar. Mas ninguém sabia o que seria a cena punk rock. (Punk Attittude - documentário de Don Letts)



[1] Collins Cobuild

[2] Houaiss

[3] Aurelio

[4] BIVAR, Antonio O que é punk São Paulo: Ed. Brasiliense, 2000 (p. 35/6)

[5] PUJOL, Sergio Las ideas del rock Rosario: Homo Sapiens Ediciones, 2007