segunda-feira, 26 de março de 2007

Taí!

Taí dois conceitos para o que é Manguebeat! Na coluna “Escuta aqui”, de Álvaro Pereira Júnior, na Folha de São Paulo. Saiu no dia 05 de fevereiro.

EU NÃO gosto de mangue beat. Estou falando do som. Repetitivo, sem melodia, em geral mal-produzido. *

Mas gosto de mangue beat. E aí estou falando das idéias e da atitude. Do olhar amplo, voltado para o mundo, regional sem ser provinciano. Na sexta-feira passada fez dez anos da morte de Chico Science, fundador e líder da Nação Zumbi, até hoje na ativa.

No auge desse tipo de som, anos 90, eu não estava nem aí. Do Recife, eu só gostava dos Devotos do Ódio, justamente porque rejeitavam essa mistura com ritmos regionais ("Somos uma banda de hardcore!", diziam).

Meu "coming of age" foi nos anos 80, em que a esquerda stalinista, com forte presença na crítica cultural, valorizava a cultura nativa e a produção artística "de protesto". Minha repulsa a essas idéias já naquela época mofadas era total. Anos de leitura voraz dos textos de Paulo Francis só faziam reforçar meu desprezo pelo regionalismo.

Quando o mangue beat chegou, despachei-o imediatamente para o compartimento cerebral destinado à arte regionalista. Tentei escutar Nação Zumbi, mundo livre (na época era tudo em minúscula). Amigos diziam que eram vitais, contemporâneos. Mas eu não conseguia passar da segunda ou terceira faixa. Até hoje não consigo.

Se fechei os ouvidos à música, não deveria ter fechado os olhos às idéias. Chico Science, Fred 04 e outros sabiam do que estavam falando. Muito antes de a internet se popularizar no mundo, eles já vislumbravam um universo interconectado, de disseminação rapidíssima de idéias. Eram, na falta de palavra melhor, modernos, gente carregada de informações e de referências, vinda de longe dos supostos centros culturais brasileiros.


* Isso é uma opinião do Álvaro. Quanto a isso, só posso dizer, “cada um com seu cada um”

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