quarta-feira, 18 de abril de 2007

Aumenta o zoom que é punk

Vamos fazer um exercício de imaginação. Imagine se o programa Google Earth captasse não fotografias de satélite e sim sons e movimentos das mais diferentes localidades do planeta. Se isso fosse possível, eu sugeriria que você digitasse “Alto José do Pinho” no mecanismo de busca desse programa. Você veria, então, o zoom se aproximando do local escolhido: América do Sul, Brasil, Pernambuco, Recife, Casa Amarela, Alto José do Pinho. A imagem panorâmica mostraria uma arquitetura precária, denunciando que a localidade que lhe indiquei é um bairro pobre, uma favela. O zoom continuaria ativo e se aproximaria mais, mostrando uma intensa movimentação. E aí desconfio que, calcado nas recorrentes notícias que proliferam nos jornais brasileiros, você desconfiaria estar presenciando uma movimentação de tráfico de drogas. Eu lhe diria então para ligar o som do computador. Entre os sons cotidianos de crianças brincando nas ruas e de pessoas conversando, você ouviria música, muita música, principalmente punk. E pode ter certeza, essa movimentação não inclui tráfico.


No entanto, o Alto José do Pinho já foi conhecido pela intensidade da violência e do tráfico. Mas isso começou a mudar quando, no final da década de 1980, um grupo de meninos do “Zé do Pinho” começou a “curtir” música punk. Entre tantos ritmos que povoavam a vizinhança, como o caboclinho, o maracatu, o coco e a ciranda, os meninos do “Zé do Pinho” se identificaram com o punk e passaram a se definir como tais. Como disse Silvio Essinger:


Em qualquer lugar do mundo, por mais carente que seja a comunidade, haverá sempre uma guitarra vagabunda plugada num amplificador podre e uma bateria de lata para que garotos descubram a inigualável experiência de fazer os seus próprios sons. E, uma vez que montem suas primeiras bandas, eles decerto quererão escrever letras que falem do seu cotidiano e de suas inquietações, seja de forma brincalhona ou sisuda, coerente ou delirante. Pois bem, isso é punk rock[1].


Se identificar com a música punk não significava negar uma identidade local em prol de uma identidade estrangeira. Ao contrário, significava se apropriar localmente de um estilo de vida globalizado. E foi através do punk que o Alto José do Pinho deixou de ser reconhecido pela violência e passou a ser conhecido como “Celeiro de bandas”, aumentando a auto-estima não só dos punks do Alto, mas de todos seus moradores. Se você já foi lá, você sabe como é. Se algum dia você for lá, você verá!!

[1] ESSINGER, Silvio Punk. Anarquia planetária e a cena brasileira São Paulo: Editora 34, 1999 (p.15)

sábado, 14 de abril de 2007

Da tropicália ao manguebeat (curso)

Esse blog também se presta a fazer anúncios, mas só aqueles que valem à pena. E esse é imperdível!! Curso "da tropicalia ao manguebeat", ministrado pela Santuza, que além de ser professora super conceituada no campo de estudos da música, é gente fina toda a vida. As informações estão aí embaixo


Da tropicália ao manguebeat

O curso, ministrado pela professora Santuza Cambraia Naves*, vai explorar as convergências possíveis e as diferenças entre a canção tropicalista (que inaugura uma perspectiva que reúne tanto a diferença quanto a universalidade, promovendo uma ruptura com o projeto nacional-popular) e as sonoridades que se desenvolveram mais recentemente no Brasil, como o funk, o hip-hop, o manguebeat e outras modalidades de música eletrônica.


Aonde: Pólo de Pensamento Contemporâneo: Rua Conde Afonso Celso, 103 - Jardim Botânico - CEP 22461-060 Tel. (21) 2286-3299 e 2286-3682

Valor: R$360,0050% na inscrição e o restante 30 dias após o início do curso
Data: 24 de abril a 5 de junho


* Santuza Cambraia Naves tem formação em Antropologia Social e Sociologia. Professora da PUC-Rio e coordenadora do Núcleo de Estudos Musicais da UCAM. Livros publicados: O violão azul: modernismo e música popular, Da bossa nova à tropicália, Do samba-canção à tropicália, e A MPB em discussão – entrevistas.


quarta-feira, 11 de abril de 2007

Arriando minha sunga!!!

Esse saiu no blog do Roger ( http://rogerderenor.uol.com.br/) e no overmundo (www.overmundo.com.br)
Arriando minha sunga!!!
Roger de Renor · Recife (PE) · 26/3/2007


Ao reassumir este ano, a Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco, o Mestre Ariano Suassuna, foi enfático ao declarar a política que adotará em sua gestão – será Armorial.
É isso, o Movimento Armorial agora é plano de governo.

Dito isto, nós que vivenciamos o Manguebeat dos anos noventa, não deixamos de lembrar as declarações radicais (mesmo na época) do velho mestre, nos idos e vindos de noventa e cinco, um ano após o lançamento do antológico álbum DA LAMA AO CAOS, que voltaria a atenção da música pop mundial para o Recife. "Eu não entendo em que uma música ruim como o rock, possa contribuir com uma coisa boa como o maracatu? - Perguntava o Secretário. Justificando com isso, que não preveria verbas para esse “tal movimento” ao qual tratava simplesmente como rock. Pois bem, passaram-se mais de dez anos e achavamos que o tempo tivesse respondido a pergunta do Mestre, sim, pois indiscutível mesmo nesta vida, só a sabedoria do tempo, mais nada...

A razão do tempo deveria tê-lo feito enxergar, que o som do Manguebeat, e Chico Ciência (como resistia em chamá-lo), não só contribuiu com o velho e bom maracatu, mas foi além, aproximou as novas gerações das nossas manifestações culturais tradicionais, de uma forma muito mais prática, direta, efetiva e pacífica, do que a intelectualidade restritiva do Armorialismo.

Se o Manguebeat bebeu na fonte ou reprocessou as informações, respirando o ar de Casa Forte de passagem pra Rio Doce, sei lá, eu não tenho aqui a intenção da informação, mas uma coisa é certa: O tempo passa, o tempo voa, e a poupança bamerindus, nem sempre continua numa boa... (desculpa). Então hoje, 2007, nos deparamos novamente com o tema, agora muito mais complexo e por sua vez, também tratado de uma forma muito mais ''simplista''pelo Secretário. Só que hoje, além de ao vivo e nos jornais, graças a tecnologia, acompanhamos com a possibilidade de voz a quem queira opinar sobre o assunto, com agilidade na rede. Ariano, no último final de semana em sua cerimônia de posse, uma aula espetáculo aberta ao público no teatro Santa Isabel, concorridíssima com lotação esgotada, de tanta gente querendo prestigiá-lo, em sua fala inaugural de governo, citou infelizmente (ou não), como exemplo da necessidade da implantação de sua particular política cultural, o sucesso da musica, ''Pra me Conquistar'', da Banda Calypso, cantarolou uma estrofe, e referiu-se aos seus compositores como ''idiotas'', “imbecis'', arrancando gargalhadas da platéia. O país é livre, e os artistas mais ainda, mas na posição de Secretário de Cultura empossado, sua opinião, poderia ser respeitada, se fosse em sua casa, ou então, na universidade, ampliando o debate, e discutindo com a sociedade e principalmente com especialistas acadêmicos, que a muito, pesquisam e estudam sobre o tema, e que estão fundamentados em discordar de sua opinião, inclusive, desde o tempo em que equivocou-se, de forma também preconceituosa com o Manguebeat, que tão humilde foi no cumprimento de seu objetivo muito mais amplo do que o pretendido a princípio.

É muito simples dizer que o brega é uma merda, lá no Burbúrio, tem dias que digo isso de duas em duas cerveja, talvez o punk tenha acabado, ou o rock em inglês seja ridículo, ou todo intelectual seja um chato do caralho... isso em um bar é papo ótimo, mas dito pela boca de quem vai gerir a cultura do meu estado, tem outro peso...

E AGORA, O MEU MARACATU, PESA UMA TONELADA!!!

Admiro e respeito o Mestre Ariano, sua obra e movimento, desde que conheci e integrei a família e a universidade do Balé Popular do Recife, nos oitenta e tal, a sua estética e fundamentos fazem pirar qualquer um que se interesse por gente, pela nossa cultura e nosso povo em sua essência de genialidade, complexidade, nobreza, e simplicidade principalmente, pois se não fosse assim, não poderíamos partir do princípio e licença poética de que não somos nada, e disso... Reprocessar, desconstruir, quebrar conceitos, ampliar valores, agregar, evoluir, abrir o peito... são algumas das palavras de ordem que tenho dado ouvido nestes tempos, e tal acusação me fez vestir a carapuça de brega ou a la ursa. Li a resposta do produtor da Banda Calypso, nunca pensei que reveria meus valores a ponto de reverenciar a nobreza de tal Banda. SE O DIABO É O PAI DO ROCK, O HD É DEUS DE TUDO... VIVA XIMBINHA, VIVA O DJ DOLORES, VIVA OS MARACATUS DE ALIANÇA, E PRESERVEM AS BALEIAS...
Eu num sei tu, mas: EU VIM COM A NAÇÃO ZUMBIII!!!!

sexta-feira, 6 de abril de 2007

fragmentos de uma viagem - Rogerman e os emos

Olinda, Alto da Sé, Escola de Samba Preto Velho, Festa Criolinda, organizada por Rogerman (Bonsucesso Samba Clube), num esforço de animar a cidade. Rogerman está bravo, não agüenta mais os emos e a falta de espaço pra sua banda. Diz que os emos deturparam o punk, copiam o que vêem na MTV, não criam nada, não têm atitude. Diz que está de mudança pra São Paulo. Mas que é contra a sua vontade, apenas porque não encontra espaço em Olinda. Termina seu longo discurso dizendo: eu sou adepto do “Do it yourself”, eu acho importante morar na minha cidade, que o menino da minha rua me veja no palco e depois me veja abrindo a porta da minha casa, eu acho importante viver o “original Olinda style”, um modo de viver e fazer música de Olinda, do meu lugar.


quinta-feira, 5 de abril de 2007

mundo livre na tv

Esse saiu ontem no blog do Ricardo (http://odia.terra.com.br/blog/ricardocalazans/).

MUNDO LIVRE NA TV
Agora há pouco, num dos intervalos da final do ‘Big Brother Brasil 7’, a TV exibiu um comercial de um minuto da Azaléia. E a melhor coisa do reclame era a trilha sonora: na telinha, uma penca de modelinhas bem jeitosas desfilavam sandalinhas ao som de ‘Meu Esquema’, da banda pernambucana mundo livre s/a. É de se imaginar como ela parou ali.Fiquei pensando se por acaso algum moleque (ou mocinha), nascido por volta de 1980, não deu a sorte de cruzar, durante a fase de crescimento, com algum dos discos do mundo livre. ‘Por Pouco’, o que traz ‘Meu Esquema’, é de 2000. A música também foi tema de um programa da Luana Piovani na MTV. Tanto faz como a música entrou na vida dela (ou dele). E se o garoto (ou a menina) cresceu, foi trabalhar numa agência de publicidade e teve a manha (e a sorte) de emplacar uma música do Fred Zero Quatro (o autor da música) em horário nobre? Se isso aconteceu, ainda há esperança para a Humanidade...