terça-feira, 12 de agosto de 2008

Aquele vasto mundo lá fora

Então, já que a gente tava tão isolado de tudo, a tecnologia te dava essa sensação que a gente tava compartilhando alguma coisa com aquele vasto mundo lá fora.[1]

Essa fala de DJ Dolores poderia servir de resposta à provocação de Pedro Só quanto à efetividade da relação dos mangueboys com a tecnologia. A presença da tecnologia no ideário do Mangue não se resume, de forma alguma, a uma simples questão de ser efetivada na prática. Mais do que uma questão de ser ou não usuário de computador, de ter ou não propriamente uma relação com a tecnologia, a importância estava no aspecto de ícone assumido pela tecnologia no discurso dos idealizadores da Cena Mangue. Mais do que um instrumento de ordem prática, a tecnologia é um símbolo, como também foi colocado por DJ Dolores:

A tecnologia era um ícone tão importante que se você for ver direitinho nos discos dos meninos, nos primeiros discos, isso daí é super explícito. No disco do mundo livre tem desenhos de chips, eles colavam chips pelo corpo e tal. Embora Fred Zero Quatro seja até hoje um completo analfabeto tecnológico. Como símbolo era uma coisa muito importante. E o Chico Science & Nação Zumbi usou mpc no Da lama ao caos, que era o grande instrumento do hip hop, a guitarra do hip hop. Eu fiz a capa do disco do Chico Science & Nação Zumbi, eu fiz questão de usar um computador. Acho que era um 286. Então, se vocês forem ver, a resolução é uma merda. Se a gente fizesse com outra técnica ia ficar muito melhor. Mas era importante, pra gente, usar computador. Era importante pra gente gerar som e imagem que dissesse que a gente usou a tecnologia mais de ponta que a gente tinha naquele momento.[2]


[1] Entrevista com DJ Dolores – 09 de fevereiro de 2007 – Recife (por Rejane Calazans e Clarisse Vianna)

[2] Entrevista com DJ Dolores – 09 de fevereiro de 2007 – Recife (por Rejane Calazans e Clarisse Vianna)

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